Direito
Acessibilidade: um desafio para Pelotas
Município instala Comitê Gestor da Pessoa com Deficiência durante lançamento da 18ª Semana Municipal da Pessoa com Deficiência
A 18ª Semana Municipal da Pessoa com Deficiência iniciou-se nesta segunda-feira (21) em Pelotas com a instalação do Comitê Gestor da Pessoa com Deficiência e a nomeação de titulares e suplentes para compor o órgão. O tema Direitos da pessoa com deficiência: avançamos? é uma indagação, respondida positivamente pelo presidente do Conselho Municipal de Pessoas com Deficiência, Luiz Fernando Borges, ao avaliar um avanço que, no entanto, está só começando. Para o cadeirante Marcos Cezar Teixeira, 51, Pelotas está longe de proporcionar acessibilidade de forma a facilitar a vida de quem não pode caminhar, como é o seu caso.
A reportagem do Diário Popular acompanhou Teixeira da rua Santos Dumont à General Osório. As dificuldades foram muitas no caminho e, não fosse o espírito de solidariedade de muitas pessoas que o ajudaram, não conseguiria chegar sozinho ao seu destino, mesmo com cadeira elétrica. Ele saiu da frente da Santa Casa, pegou a rua 7 de Setembro e dobrou à direita, na Barão de Santa Tecla em direção à Marechal Floriano, até a metade da quadra. Tudo isso para encontrar uma rampa para descer e retornar à 7 de Setembro. Contou com a ajuda de um guardador de carros para subir na outra calçada.
Continuou o trajeto e novamente teve de ir pelo meio da rua, entre os carros, para conseguir prosseguir. Em resumo: durante todo o percurso ele foi em zigue-zague, pois não teve acesso para pegar uma linha reta. Reclamou das calçadas irregulares, quebradas e esburacadas, e afirmou que um cadeirante manual não consegue passar sozinho em inúmeros passeios públicos sem cair. "Não dá", frisou.
Teixeira saiu da Santos Dumont, dobrou na Barão de Santa Tecla e na Marechal Deodoro até o seu destino, a General Osório. Ele abordou as pessoas na rua e contou com sua boa vontade para ajudá-lo a atravessar, pois em muitas rampas há desnível e têm de ser de costas. Sozinho cairia. Quando chegou na Osório o drama continuou. Necessitou do auxílio de um ambulante para atravessá-lo.
Na General Osório encontrou de um lado calçadas melhores, sem buracos, mas se deparou com outro problema: as grelhas junto ao corredor de ônibus e em uma parte da rua, na calçada defronte. "A cadeira normal engata nos espaços das grelhas e o cara cai", fala. Voltou a destacar que um cadeirante com equipamento manual não consegue trafegar nesses locais. Quando atravessou na esquina da Lobo da Costa precisou pedir para as pessoas que esperavam o ônibus saírem da rampa, porque elas seguiram conversando e ignoravam que ele queria passar.
Teixeira se queixou de não conseguir entrar em muitas lojas e farmácias. Mas continuou seu itinerário, até a rua Tiradentes, onde foi pegar um ônibus. Só o cobrador não conseguiu colocá-lo dentro do coletivo. Um buraco junto ao meio-fio não deixou a cadeira passar. Veio o motorista para ajudar. Só assim conseguiram, levando-o na cadeira. "Dia de chuva é complicado", comentou.
Além das dificuldades para andar como cidadão pelas ruas, aguenta desaforos. "Esses dias um carro se veio para cima de mim e o motorista me chamou de aleijado. Os taxistas do ponto xingaram o cara", conta. Na Marechal Floriano ele mostrou também que na esquina com a General Osório o meio da rua está mais elevado. Ali também pediu ajuda. De bom nisso apenas o fato de fazer amigos. De resto, lamentou as dificuldades.
Avanços
Para o presidente do Conselho, Pelotas avançou dentro do projeto de requalificação das avenidas, com o rebaixamento das calçadas, colocação de piso tátil e alerta. O transporte coletivo ainda não tem a totalidade dos veículos adaptados e junto ao corredor de ônibus há grelhas fora de padrão. Da avenida Bento Gonçalves em direção à Zona Norte as canaletas estão abertas e para ter acesso ao transporte coletivo os cadeirantes usam os acessos das garagens particulares.
No mercado de trabalho houve avanço. Em 2016 foram preenchidas todas as cotas para pessoas com deficiência. Na saúde também, com a criação do Centro de Reabilitação Visual Louis Braille e o Centro de Autismo. Para o presidente da Louis Braille, Dilmar Cunha, as mudanças estão acontecendo, ainda que com lentidão. Falta proporcionar acesso a órgãos públicos e empresas privadas.
A prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) destaca que a cidade avançou, mas que ainda falta muito. Não tem dúvida disso. "As pessoas com deficiência deveriam ter os caminhos livres e abertos. Vamos batalhar para executar o projeto de acessibilidade porque sabemos da importância para cidadãos que precisam de atenção do Poder Público e da sociedade", disse, ao anunciar que vai sancionar o projeto do vereador Daniel Trzeciak (PSDB), que prevê a instalação de banheiros químicos com módulos individuais adaptados às necessidades de pessoas com deficiência em eventos.
A vice-presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Pelotas, Helenice Couto, ressalta que nas obras novas, na parte de projeto e execução, a acessibilidade para os deficientes visuais passou a ser exigida e os prédios já são executados com pisos táteis de acordo com as normas, bem como seus passeios adjacentes. Além disso, todos os estabelecimentos que estão com projeto e execução já possuem banheiros adaptados, sendo público ou privado, desde que sejam multifamiliares, e a prefeitura exige essa condição para o habite-se.
"A maior necessidade que estamos enfrentando é a adaptação de quem tem necessidade motora. Nos novos projetos estão sendo feitos rampas ou elevadores, mas os prédios existentes ainda carecem desta adaptação", observa, ao acrescentar que a cidade ainda tem muito a fazer nesse tema. A travessia das esquinas necessita uma geometria adaptada à necessidade e ainda não há sonorização nos semáforos. As praças carecem de jardins sensoriais e é necessária sinalização informativa urbana preparada para os portadores, com ênfase nos deficientes visuais e auditivos.
Sequência
A programação prossegue nesta terça às 14h, na Escola Especial Professor Alfredo Dub, rua Zola Amaro, 379, com um aulão de Língua Brasileira de Sinais (Libras), deficiência auditiva.
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